ZerØ, um barco que nasce com história!
Em matéria especial, conheça a história de Pedro Chiesa e saiba como foi a construção da embarcação em relato compartilhado com todos os detalhes pelo comandante.
Em edição do Janga Sail Talks Live realizada no dia 30 de abril, o comandante Pedro Chiesa compartilhou com todos os detalhes da construção do seu veleiro ZerØ, a inovadora embarcação de modelo Volker 40.
Entre os principais pontos destacados no bate-papo, Pedro contou sobre a sua trajetória na vela, sua chegada no Clube dos Jangadeiros e as embarcações que antecederam o ZerØ. Nesta matéria especial, você vai conferir os principais relatos do comandante e o seu veleiro, conhecendo sua história, objetivos e próximos desafios.
Conhecendo o Comandante, sua chegada ao Brasil e ao Clube dos Jangadeiros
A história de Pedro Chiesa na vela inicia antes mesmo do seu nascimento. Seu pai, Aristides Franscisco José Chiesa, era um argentino vindo de Buenos Aires para o Brasil com um veleiro de 27 pés. Desaconselhado a continuar sua velejada para Florianópolis, Aristides Chiesa subiu então a Lagoa dos Patos, chegando em Porto Alegre no Clube Veleiros do Sul que foi recepcionado por Ernesto Neuguebauer e Edmundo Soares (foto). Por aqui, conheceu Monica Schmitt, mãe de Pedro, nos bailes do Clube Germânia.
Conforme relata Chiesa, muito antes da classe Optimist o seu ‘quintal’ foi o veleiro Fauno II, um barco de 27 pés, muito parecido com um Guanabara de quilha fixa, sem guarda mancebos. “Costumávamos ir para a belíssima costa do Uruguai, no Rio de La Plata. Aprendi a velejar sem considerar as condições climáticas. Lembro de sair de casa de madrugada, ainda noite escura, em qualquer época do ano, chovendo, com vento forte, em qualquer condição. Se estava programado, levantávamos da cama e íamos”, conta.
Em 1977, Pedro, aos 12 anos de idade, veio morar em Porto Alegre, terra natal de sua mãe. Logo após, aos 14 anos, entrou como sócio filhote no Clube dos Jangadeiros. Em sua trajetória na vela, competiu nas classes Pinguim, 470 e Oceano, que na época tinha diversas regatas de longo percurso entre Porto Alegre e cidades como Pelotas, São Lourenço e Tapes. “Muito cruzei a lagoa vendo aquelas areias brancas onde nunca parávamos”, revela.
Aos 16 anos, Chiesa falou para sua mãe que ia participar de um dos principais campeonatos da vela de oceano brasileira, em Ilhabela. “Quando comuniquei, só não avisei que ia fazer o translado. Esta foi minha primeira grande experiência de mar, onde fiquei um mês embarcado no Ressaca, barco que nem banheiro tinha. Nessa oportunidade, corri com Nestor Volker no leme, o que foi uma grande escola”, destaca.
A história de Cruzeirista
O comandante Pedro Chiesa conta que, junto com o associado Jorge Aydos, conhecido no Clube pelo apelido de Silvana, começou a fazer velejadas de lazer pelo lago com o barco da família Aydos chamado Minuano. No ano 2000, comprou o seu primeiro barco de oceano: um Velamar 24 pés chamado Hórus, que de acordo com Pedro, era um barco muito bem equipado com velas North Sails.
Após isso, adquiriu em 2002 o veleiro Auguri II, um Velamar 30 pés que trouxe de Ilhabela. Em 2006 comprou o Skipper 22 Alvará e, por fim, seu penúltimo barco antes do ZerØ foi o Skipper 30 Stromboli, o qual foi adquirido em 2016. “Apesar de correr algumas regatas, principalmente com o Alvará, que fomos a Ilhabela e Florianópolis, o meu estilo foi sempre de cruzeiros rápidos”, disse.
Entre as trajetórias pelas diferentes embarcações em que velejou, Pedro Chiesa ressalta que todo velejador tem o seu barco dos sonhos, sendo que o próprio pode ser o atual em que se está, assim como também pode ser uma evolução dele. “Para mim, o barco ideal teria as seguintes especificações: ter pé direito maior que 1,95; ter quilha retrátil – baixo calado e ser rápido. Quase impossível! ”, indica.
O veleiro ZerØ
O ZerØ foi construído por Leo Vital Licks, que infelizmente faleceu em 2018. Ele encomendou o projeto de Nestor Volker depois de ir até Salvador com um Delta 21. O veleiro foi construído de forma One Off, fazendo um plug de madeira interno.
Pedro revela que conheceu a embarcação em uma fase que estava aproveitando plenamente o Stromboli. “Em um churrasco, com a turma do Kite, Ricardo Mecânico, parceiro de velejadas de Wind e Kite Surf, me mostrou algumas fotos de um barco que estava sendo construído em Tapes. Quando vi o barco que a Daniela, viúva do Leo, me apresentou, eu disse para ela: ‘foi feito do meu jeito! Pé direito, ok. Quilha retrátil, ok. Rápido, ok”, salienta.
A primeira ideia do comandante foi trocar o nome do barco para Stromboli ZerØ e pintar de outra cor, mas, revela que com a evolução da negociação e entendendo a história do barco, percebeu que sua missão era dar continuidade a este desafiador projeto.
O sistema velico original do barco tinha uma genoa 130%, uma mestra full-batten com valuma superpositiva e dois stays fixos na proa. Após bastante reflexão e debate visando a simplificação do plano velico, foram decididas as seguintes questões:
– Cortar a valuma da vela grande reta para poder trocar os Runners por um Stay de popa fixo? (Ideia descartada pois iria descaracterizar o Barco). Por fim, foi remodelada para um square top de 40%.
– A genoa foi remodelada para 110%, facilitando as manobras.
– O 2º stay de proa fixo foi transformado em móvel.
– O Code0 foi projetado para usar no Gurupés.
– Outras questões debatidas, vela Jib, Rizos, Assymetrico.
Segundo Pedro, o gurupés também foi alvo de muito estudo. “Um gurupés para sustentar um Code 0 de forma efetiva tem que ter uma estrutura muito parecida com o stay de proa. Com isso, descartamos o móvel e, sendo um barco de cruzeiro e levando a âncora na proa mais o custo elevado, descartamos o de fibra de carbono. O impulso é sair fazendo. Ainda bem que fiz um projeto. Aprendi muita coisa, desde as tensões dos BobStays, que nem sabia o que era, circunferências dos passadores de cabo, dinâmica e tensões da âncora, etc”, destaca.
Mas o projeto não para por aí. O comandante ainda tem em mente o objetivo de melhorar dinâmica dos lemes, instalar Code 0 enrolável, colocar vela intermediaria no segundo Stay e planejar a velejada no mar. O barco foi batizado em confraternização na Ilha dos Jangadeiros em dezembro de 2019 e iniciou sua trajetória náutica uma semana depois, garantindo o segundo lugar no 67º Velejaço Noturno. Pedro Chiesa e o Zerø venceram ainda a primeira Regata da Lua Cheia do ano, evento promovido pelos Cruzeiristas do Jangadeiros que aconteceu em janeiro.
Veja abaixo as características do Zero:
- Projeto Nestor Volker
- Duplo leme
- Quilha Retratil 1,20 mts X 2,80 Mts
- Motor Yahnmar 39 Hps
- 100 m2 de vela no contravento
- 220 m2 de vela em ventos folgados
- Pé direito > 1,95 Mts
- Cabine estanque
- Interior
- Espartano
- Chuveiro melhor que lá em casa
- Cozinha Grande
- 2 Quartos
- Sala para 8 pessoas
- Geladeira e Freezer
- Mesa de navegação com visão ampla e panorâmica externa.