CHURRASCO DOS PIRANHAS: Legado de 60 anos e três mil churrascos celebrados em clima de muitas emoções e com a presença de sócios históricos

Seis décadas de amizade, camaradagem, divertimento e muitas histórias para contar, que estão contabilizadas em três mil churrascos! Não poderia haver motivo mais nobre para comemoração no encontro que reuniu alguns dos sócios mais antigos do Jangadeiros nesta última terça-feira (5).

Desde 1960, os velejadores veteranos, muitos deles multicampeões, se reúnem religiosamente, uma vez por semana, sempre às terças–feiras, a partir das 19h, para comer um churrasco suculento e repartir memórias e alegrias. “A história do Jangadeiros se confunde com a trajetória desses antigos sócios, que representam como poucos o espírito do Clube”, afirmou Pedro Pesce, Comodoro do Jangadeiros, pouco antes de descerrarem a placa comemorativa.

Vestidos a caráter – com uma camiseta alusiva ao aniversário do evento –, os velejadores ouviram os pronunciamentos de dois integrantes do núcleo original do Churrasco dos Piranhas, Paulo Renato Paradeda, presidente do Conselho Deliberativo do Jangadeiros, e Kurt Keller. Além deles, também se manifestou o sócio Fernando Albuquerque, participante ativo do grupo. Em meio à festa, foi inaugurada uma placa comemorativa com os nomes dos cerca de 20 fundadores do grupo de churrasqueiros. Na ocasião, foram citados os “piranhas” que já faleceram, entre eles, Eduardo Raul Aaron, Geraldo Tollens Linck, Edmundo Fróes Soares, Edgar Willy Siegmann e Luiz Osório Aguillar Chagas.

A denominação Churrasco dos Piranhas é uma brincadeira com a grande quantidade de carne consumida a cada encontro, numa referência bem-humorada ao apetite do peixe carnívoro. As despesas para a compra da carne e das bebidas são divididas numa vaquinha, conforme reza a tradição. “No começo, ninguém imaginava que chegaríamos aos 60 anos de confraternização, como estamos chegando”, disse Paulo Renato Paradeda, emocionado.

O encontro desta semana contou com a participação de muitas figuras ilustres e históricas do Jangadeiros, como Cláudio Aydos, Vice-Comodoro nos anos 1950, que revelou um segredo: “Na verdade, eu nem gosto de churrasco. Eu gosto é de rever os amigos!”, comentou. Estavam presentes ainda João Fernando Krahe e Paulo Roberto Bohrer, que conversaram animadamente sobre os velhos tempos. Ao lado deles, Nelson Piccolo enfatizou: “Sou um dos mais antigos e tenho orgulho de participar dessa confraternização”.

Já Romar Joaquim Lindau, que completará 90 anos de idade em março, contou que só passou a frequentar o churrasco a partir de 1988, por causa da regra de que apenas homens podem participar da reunião. “Minha esposa sempre foi muito companheira, chegamos a fazer mais de 30 viagens internacionais juntos. Durante muito tempo, preferi não participar a deixá-la sozinha em casa”, explicou. Em compensação, o filho dele, João Carlos Lindau, comparece ao churrasco desde 1975, portanto, 13 anos antes do pai. “A mãe não deixava o pai vir”, brincou João Carlos, arrancando risadas de Romar. Para o velejador dono de muitas medalhas, Cláudio Mika, que se integrou ao grupo em meados da década de 1990, “esses veteranos velejadores representam a história viva não apenas do Jangadeiros, mas de toda a vela de competição do Rio Grande do Sul e do Brasil”.


Amor e suor para construir o Jangadeiros

O primeiro Churrasco dos Piranhas foi realizado em 5 de julho de 1960. A ideia partiu do associado Eduardo Raul Aaron ao ser convidado para fazer parte da Diretoria do Clube dos Jangadeiros como tesoureiro. “Eu aceito com uma condição – que se faça um churrasquinho por semana”, respondeu Eduardo, quando escutou o convite de Geraldo Tollens Linck, Comodoro na gestão 1960/62.

A partir daí, o grupo passou a se encontrar todas as terças-feiras para a confraternização. “Nos primeiros churrascos, nem salada tinha, só costela. Cortávamos a carne em cima da tábua e comíamos de pé”, recorda Paulo Renato Paradeda, salientando que a tábua dos primeiros encontros está guardada até hoje como relíquia. A princípio, o churrasco se realizava em área descoberta, próxima ao local em que está instalada hoje a loja náutica, deslocando-se mais tarde para o espaço coberto e mais confortável atualmente ocupado.

A realização do primeiro Churrasco dos Piranhas coincidiu com um período extremamente rico da história do Jangadeiros, como destaca Kurt Keller, Vice-Comodoro em cinco gestões do Clube. “O pequeno Jangadeiros atingiu em 1960 a sua maioridade ao completar 19 anos.” Kurt assinalou que, um ano antes, o Jangadeiros havia organizado o primeiro Campeonato Mundial de Snipes abaixo da linha do Equador, para o qual construiu 20 barcos cedidos aos competidores, atendendo às exigências dos organizadores do torneio.

Em 1960, o Jangadeiros também deu os primeiros passos para concretizar o sonho do fundador e patrono Leopoldo Geyer de construir uma ilha de oito hectares, proeza que se mostrava necessária para garantir suporte ao desenvolvimento da Vela de Cruzeiro. Para isso, foi providenciado um aterro com material procedente da Cidade de Deus, na Cavalhada, trazido por mais de dez mil caminhões até o Jangadeiros.

Aliás, a ilha e também a ponte de acesso com capacidade para 15 toneladas foram construídas com o suor e o coração dos antigos sócios do Jangadeiros, entre eles, os fundadores do Churrasco dos Piranhas, que durante 12 anos carregaram pedras “no muque” para transformar o sonho em realidade, conforme Kurt Keller, demonstrando o amor dos velejadores pelo Clube.

Confira o álbum de fotos completo do evento no Facebook do Clube: https://bit.ly/2Gze9ku